segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Humor no Jornalismo



Ao contrário do que se pensa, a relação entre humor e jornalismo, a exemplo de alguns programas atuais como o CQC, vem de muitos anos.

Fazia pouco tempo do final da ditadura, e da indesejável Censura de Imprensa, quando as produções independentes se tornaram os grandes responsáveis por denunciar os monopólios dos meios de comunicação de massa, e dar visibilidade às manifestações sociais, período em que as emissoras de TV continuavam a nutrir um certo receio em exibir qualquer manifestação contrária ao governo.

Apesar do paradoxo existente nesta relação, pois o humor tem como características uma linguagem crítica, opinativa, parcial, ambivalente, enquanto o jornalismo pressupõe clareza de informações, precisão e neutralidade; temos alguns exemplos desta parceria, que deram muito certo.

É o caso do programa Bom Dia Déo, da TV Viva (criada em 1984, em Olinda). No Bom Dia Déo eram apresentadas reportagens sobre assuntos diversos, com a figura quase folclórica do apresentador Brivaldo (interpretado pelo ator Cláudio Ferrário), que dava a oportunidade aos moradores da periferia de discutir e expressar suas opiniões, tudo isto, é claro, com altas dosagens de humor e irreverência. Nele, o imperfeito era permitido, a imagem desfocada, a câmera tremida, o palavrão, enfim, o grotesco. O apresentador era o típico anti-repórter que se emocionava, tomava partido, emitia opiniões próprias, elogiava, se envolvia e identificava com as pessoas.

O fato é que hoje, o Bom Dia Déo, bem como a maioria dos programas do gênero, surgidos em meados da década de 80, não existe mais. Mas, tais programas, fizeram muito mais do que simplesmente entreter uma geração. Eles abriram as portas para uma nova forma de fazer jornalismo, menos sisuda, um pouco mais informal e próxima do telespectador.

E se o objetivo é denunciar, dar voz e vez a população, oferecendo uma oportunidade para discutir e resolver seus problemas, e se o meio por sua forma irreverente, tem maior impacto na sociedade, apesar de não se enquadrar em nenhum gênero padrão, se constitui sim, uma forma legítima de se fazer jornalismo.







Meyves Rodrigues

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